Guerra dos Tronos
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Mensagem por Tymo Blackwood 15.10.17 13:51

Tymo Blackwood


Respirei profundamente enquanto fitava o horizonte sépia que me circundava. Do alto do vale, Solar de Corvabor parecia formar um forte natural, como se tivesse sido moldado pela natureza para sua própria proteção. Era como mais um dos inúmeros sinais dos Antigos Deuses, contados nas histórias de família de geração em geração, sem nunca ser esquecida. Naquele momento sentia uma grande tormenta em meu interior, como se uma torrencial tempestade estivesse prestes a sair pelo meu peito, rompendo o meu corpo.
Estava com minha cota de malha vermelha, nas cores de minha Casa, mas não me vestia como o Lorde que me tornara após a partida de meus irmãos rumo a Correrrio. Lorde Blackwood de Solar de Corvabor, senhor de suas terras, herdeiro de seu nome. Estava rodeado por servos e soldados, mas nunca, em toda a minha vida, senti-me tão só. Mais calado do que de costume, caminhava pelos corredores com o cenho sempre fechado, como se as próprias paredes pudessem me reservar alguma surpresa. Não sabia como explicar, mas sentia que muito mais ainda estava por vir, e as mudanças, inevitáveis ou não, estavam apenas começando.
Retirara o arco longo das costas, sacando da aljava uma flecha de ponta tão afiada quanto à lâmina de uma espada. Por sinal, espadas não eram as minhas melhores companheiras. Minhas habilidades físicas aparentemente espelhavam completamente o meu emocional. Sereno, não possuía a ira interna de Ethan no que dizia respeito ao embate corpo a corpo. O caçula, por sinal, parecia ser dotado de um desejo primitivo pela morte, quase lhe despertando prazer. Ao contrário, eu era muito mais pragmático, talvez bem mais parecido com Tristan, meu irmão mais velho, o agora Protetor do Tridente. Com exceção do tino pela liderança, éramos bastante parecidos. Mas havia um quê de sombrio inexplicável crescendo dentro de mim.
Ultimamente passei a sentir-me sempre preocupado, sempre temeroso. Temia pelo destino de Tristan, sobre qual caíra uma enorme responsabilidade. Temia por Ethan, que agora necessitaria mais do que nunca amadurecer, já que acabara de ser nomeado Chefe da Guarda em Correrrio. Mas temia principalmente por minha irmã Cecil. Ah, Cecil sempre fora o meu ponto fraco. Tomei-a como protegida praticamente desde o dia de seu nascimento. Cecil era o exemplo de Lady e o exemplo de guerreira. Cecil era o ponto exato onde delicadeza e força se encontravam. Era tão bela quanto as flores do campo, tão delicada quanto um jasmim, mas possuía a força de um exército, e a habilidade herdada em seu sangue dos maiores guerreiros da Casa. Não haveria jamais um homem que pudesse chegar aos pés de minha irmã, ninguém que fosse digno de tomá-la como esposa. Frustrava-me sempre ao pensar que Tristan não enxergar dessa maneira.
Lancei a flecha, que atingira o alvo com uma precisão impressionante. Minha visão era minha grande dádiva, e isso também refletia em meu grande poder de observação. “Os calados se atentam o bastante para notarem aquilo que os falastrões deixam passar” disse uma vez ao ser questionado jocosamente por Ethan na mesa de jantar. A expressão, claro, despertara risos, mas era de fato uma verdade que carregava comigo.
— Recebemos um corvo essa manhã. Mensagem de Correrrio.
Sequer me virara ao escutar a conhecida voz que se aproximara. Em um mono-tom, a mulher seguira se manifestando, apesar de minha insistência em prosseguir com o treinamento de arqueiro.
— Mensagem de Tristan. Mensagem do seu irmão.
Respirara profundamente, cerrando os olhos. Saquei mais uma flecha, apurando a mira.
— O julgamento já ocorrera. O assassino dos Tully está morto.
Disparara. Certeiro, mais uma vez.
Virei-me finalmente, fitando Olya, esposa de Tristan, que permanecera em Solar de Corvabor a pedido do marido. Estava com um semblante cansado, como se não dormisse há dias. Carregava uma expressão parecida com minha própria, mas por motivos bem diferentes. Certamente estava preocupada com o destino de Tristan, ao assumir tamanha responsabilidade tão repentinamente.
— Cumprira com o seu dever. – Respondi secamente – O Protetor do Tridente é forte, possuí o sangue Blackwood, e carrega consigo a proteção dos Deuses.
A mulher abaixara os olhos por poucos segundos, concordando em um menear de cabeça, sem passar confiança alguma em seus gestos. Voltara então a me fitar.
— Mas não fora apenas isso relatado na mensagem. – Uma breve pausa fora feita – Tristan está convocando todos os Lordes das Terras Fluviais a comparecerem ao Conselho.
A última frase me tomara de assalto. Praticamente engolira as palavras proferidas. Algo muito sério deveria ter ocorrido para que tal convocação fosse feita.
— Todos os Lordes? Pelos Deuses, o que ocorrera? – Questionei em leve sobressalto.
— Aparentemente após a morte dos Tully, e o desaparecimento de sua única herdeira, um princípio de caos passara a se instaurar nas terras do Protetor do Tridente. Ele não entrara em muitos detalhes, mas a situação parece estar delicada. – A mulher suspirara brevemente – Estou temerosa, Tymo. Temos pelo destino de Tristan... Temo pelo destino de nossa criança.
Dei um passo em direção a Olya, os olhos da mulher agora fitavam o chão, tão penetrantes quanto o aço.
— Ficará tudo bem, os Antigos Deuses estão do nosso lado. – Tocara o seu ombro direito, em um leve e sincero afago – Tome seu filho nos braços, partiremos tão logo a Correrrio. Preciso ver com os meus próprios olhos o que está acontecendo por aquelas terras. Auxiliarei o Protetor do Tridente no que puder.
Pude então observar um sorriso de canto de boca surgir timidamente na face de minha cunhada. Ela parecia mais calma, e um tanto mais segura.
Recebi uma resposta positiva após um sinal com a cabeça. Deixando-me solitário com meus pensamentos, Olya partira, preparando-se para a viagem que ainda faríamos. Por ali permaneci, tenso, envolto em uma aura de preocupação constante. Era por demais desagradável me sentir daquela maneira, mais parecia que estava sendo acuado por um inimigo. Um inimigo invisível e intangível.
Não gostava da ideia de um chamado repentino para o Conselho. De alguma maneira sentia que algo de desagradável estava sendo guardado para aquela reunião. Podia captar o cheiro no ar. Sabia que precisava partir. Meus irmãos precisariam de mim. O Lorde Blackwood de Solar de Corvabor responderia ao chamado. A Casa Blackwood estaria presente no Conselho.
Que os Antigos Deuses permaneçam conosco, clamei em silêncio.
Deuses Antigos ouvi-los.
Tymo Blackwood
Tymo Blackwood

Casa : Blackwood
Local de Nascimento : Solar de Corvabor
Masculino

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