Maegelle Targaryen - A Descoberta
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Maegelle Targaryen - A Descoberta
Maegelle
O dragão vermelho de três cabeças estampava as velas dos três dracares que se se aproximavam de Pedra do Dragão. Na proa, Maegelle aguardava impaciente o desembarque, com os braços cruzados na frente do corpo. O vestido de seda azul, perfeitamente ajustado à silhueta de seu corpo, dançava com os fortes ventos rebatidos pelo paredão rochoso sobre o qual o gigantesco castelo fora erguido. Os dragões esculpidos no alto das torres não eram novidade para a princesa, mas para os jovens soldados que aportavam pela primeira vez na ilha eram um sinal de imponência e respeito.
Maegelle nem ao menos esperou que a âncora fosse lançada ao mar quando seu dracar se aproximou do ancoradouro. Rapidamente, puxou a barra do vestido para cima do joelho e saltou para a plataforma de madeira. Benedict Velaryon, o mestre dos sussurros de Porto Real, pulou atrás da princesa, cuidando para não enroscar a perna no vão entre o dracar e a plataforma.
- Vossa Graça, espere um minuto.
- Eu preciso conversar com meu tio, Benedict. Preciso ouvir o que Viserys tem a dizer sobre tudo isso. Algo em minha mente insiste que sua partida repentina e o assassinato de meu pai estão mais relacionados do que podemos ver. – Maegelle pisava com tanta firmeza, que parecia disposta a fazer buracos na passarela suspensa.
- Compreendo sua desconfiança, Vossa Graça, mas existe algo que preciso lhe dizer antes de confrontar Viserys. – Benedict quase estendeu a mão para segurar o braço da princesa, mas pensou que isso pudesse ser considerado desrespeito. A última coisa que queria era que Maegelle Targaryen pensasse que não a respeitava.
- O que quer que queira me dizer, pode esperar, Benedict. Nada é mais urgente do que esse encontro. Se quiser me acompanhar, terá que aguardar para trazer sua questão.
- Como quiser, majestade. – Benedict fez uma reverência discreta e seguiu ao lado da mulher que conquistara sua admiração tanto tempo atrás.
- Assim que chegarmos ao castelo, quero que procure Meistre Jhocarys. Peça a ele para enviar um corvo à minha mãe dizendo que chegamos a salvo.
- Com todo respeito, Vossa Graça, mas em algum momento teve a impressão de que não chegaria? - Como se para enfatizar o questionamento do mestre dos sussurros, um guincho agudo foi ouvido ao longe e o grande dragão Galantis surgiu contornando o rochedo às costas do castelo.
O ruído do bater de asas era tão alto, que podia ser ouvido a pelo menos um quilômetro de distância. Suavemente, o dragão pousou no alto da torre central e fixou os olhos na direção de Maegelle. Sempre que viajavam para Pedra do Dragão, Galantis pousava e permanecia no mesmo lugar até que a princesa estivesse protegida dentro das muralhas.
- Viserys também tem um dragão. Um maior do que o meu, Benedict. Se ele quisesse nos proibir de aportar, poderia.
- De fato, foram pouquíssimas as coisas que Viserys quis ter e não pôde. – Benedict ponderou.
- O trono de ferro é uma delas. – Maegelle acrescentou, parando em frente à grande escadaria que conduzia ao interior do castelo.
- Será mesmo? - pensou Benedict, enquanto estudava os dois soldados Targaryen no primeiro degrau.
Usavam armaduras tão opacas que nem mesmo o símbolo do dragão de três cabeças era capaz de lhes conferir alguma beleza. Já os mantos vermelhos, que partiam dos ombros e chegavam aos tornozelos, exibiam um brilho natural hipnotizante. Os escudos que levavam em frente ao corpo eram tão bem polidos, que Benedict conseguia ver o próprio reflexo. Ainda assim, os homens pareciam sem importância ao lado dos dragões de pedra que enfeitavam ambos os lados da escadaria até a grande porta de entrada. Maegelle puxou levemente o vestido para pisar no primeiro degrau e quase caiu para trás quando as lanças dos soldados se cruzaram em sua frente.
- Não pode passar, milady. Não fomos avisados de sua chegada. – o soldado da direita informou sem olhar para a princesa.
- O que significa isso? – Benedict perguntou, indignado, enquanto Maegelle se limitava a exibir uma expressão de raiva.
- Lorde Viserys deixou claro que não deveríamos deixar entrar qualquer pessoa que não tivesse notificado sua vinda. Estamos cumprindo ordem, homem. – o outro soldado completou.
- Essa é a princesa Maegelle Targaryen, filha do próprio rei Jaehaerys. Essa ilha lhe é de direito. Não precisa de autorização para entrar. – visivelmente exaltado, Benedict gesticulou no ar e tentou uma passagem forçada. Uma mão em seu peito o impediu de prosseguir.
- Sabemos quem é ela, senhor. Sabemos que a ilha lhe é de direito, assim como também o é de Lorde Viserys. As ordens foram claras. Ninguém passa sem autorização dele.
Maegelle fechou os olhos por alguns segundos e virou a cabeça para cima. Como se respondesse a um comando silencioso, Galantis abandonou o posto de guarda e voou na direção de sua domadora. Quando a grande sombra móvel passou pelos guardas, o medo em seus olhos se tornou perceptível. O suor começava a escorrer por baixo do elmo, enquanto os homens tentavam se manter impassíveis. O dragão pousou cerca de dez metros atrás de Maegelle, lançando uma nuvem de poeira e pedras em todas as direções.
- Talvez eu deva lhes lembrar como nosso ancestral conquistou cada pedaço de terra que lhe foi negado. Quem sabe seus corpos carbonizados não sejam mais simpáticos? – Maegelle exibiu um sorriso triunfal.
Em outras circunstâncias, nunca usaria Galantis para impor sua vontade, mas os tempos eram outros. Sorrindo, Benedict fez um gesto com as mãos e os guardas retiraram as lanças do caminho, liberando o acesso à escadaria.
- Vossa Graça! – Benedict acenou para a escada e Maegelle passou por ele, subindo os degraus rapidamente. – Aproveitem a companhia. – disse ao guarda da esquerda, tocando-lhe gentilmente o ombro. Galantis esperou até que Maegelle estivesse na metade da escadaria para alçar um voo novamente e retornar para seu lugar.
A grande porta do castelo estava escancarada e uma silhueta humana aguardava em pé. Maegelle subiu ainda mais depressa quando se deu conta de que era o tio quem estava plantado junto à porta.
- Não esperava recebe-la tão cedo, querida sobrinha. Que visão para os meus olhos. Sempre radiante. – Viserys disse, abrindo os braços e aguardando um abraço que nunca veio.
Quando chegou perto o suficiente, Maegelle esbofeteou o rosto do tio com toda a força que tinha. Viserys tocou a face atingida e olhou-a com diversão.
- Você está envolvido nisso até o pescoço. É por isso que voou para cá na mesma noite em que meu pai morreu. Não sei que parte desempenhou nisso tudo, mas tenho certeza de que foi uma das cabeças desse plano. – Maegelle estava tão furiosa, que teve que fazer um esforço descomunal para evitar desferir outro golpe.
- Vejo que os acontecimentos recentes não fizeram muito bem para seu bem estar mental, querida sobrinha. Primeiro a perda de seu pai e depois a perda do trono. Deve ser bastante difícil a queridinha do reino perder todos os privilégios. – Viserys respondeu com sarcasmo.
- Nós descobriremos tudo o que aconteceu, Viserys. Tudo isso vai explodir diante de seus olhos e estaremos rindo quando sua cabeça rolar diante de toda Porto Real. – Benedict explodiu em defesa de sua amada princesa.
- Vejo que trouxe seu capacho, Maegelle. Ainda não se cansou desse cão que lhe monta as pernas constantemente? – Viserys olhou para o homem com desprezo, como sempre o fazia.
- Benedict é muito mais leal do que você jamais foi.
- Tão inteligente, mas tão ingênua. Você sabe muito bem o que esse idiota quer com tanta lealdade. Chega a ser admirável que ainda esteja colado em você, quando a única coisa que tem a oferecer agora é essa flor murcha. Diga-me, Benedict, ainda tem esperança de sentar naquele trono? – Maegelle encarou o tio enojada, enquanto Benedict manteve silêncio absoluto.
- Foi o que pensei. – Viserys retomou, caminhando em direção aos degraus. – Adoraria continuar com esse diálogo extremamente produtivo, mas tenho uma coroação à qual comparecer. Pegaram-me no momento de saída. Com sua licença, ex-majestade!
- Você está ficando maluco se acha que permitirei que saia dessa ilha sem mais explicações. – Maegelle se colocou na frente do tio e o encarou de baixo.
- Não permitirá? E como pretende me impedir? Com aquele lagartinho que chama de dragão? – Viserys soltou um assobio agudo e aguardou pacientemente no lugar. Um bater de asas muito mais intenso do que o de Galantis cortou o ar vespertino e o enorme dragão vermelho surgiu sobre suas cabeças. – Tente. Vamos lá.
Maegelle sentiu o estômago revirar ao observar Caraxes voando livremente. O dragão parecia cem vezes mais ameaçador do que quando estava preso no fosso dos dragões. Ela sabia que, se o incentivasse, Galantis brigaria por ela até sua morte. Mas não podia estimulá-lo a isso. Não sem um plano de batalha. A contragosto, a princesa se retirou para o lado, permitindo que Viserys continuasse a sua descida.
- Ah, a propósito. Obrigado pelos dracares. – ele disse, antes desaparecer escadaria abaixo.
- Eu tenho certeza de que ele está envolvido nisso, Benedict. Preciso de provas.
- Talvez eu já as tenha, Vossa Graça.
- O que quer dizer?
- Meus passarinhos ouviram uma conversa de Valerion e de Viserys no Bosque Sagrado, na noite do assassinato de seu pai. Ao que parece, os dois estão igualmente envolvidos nessa terrível tragédia.
- Quero que me conte tudo que souber, Benedict. Não omita qualquer informação.
- Eu nunca omitiria nada de Vossa Graça, como bem sabe. Mas entremos, Vossa Graça. - O mestre dos sussurros tocou gentilmente as costas de Maegelle, conduzindo a para dentro do castelo. - Pois até mesmo as pedras podem ter ótimos ouvidos [...]
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