Comemorar ou olvidar?

Alguns dias após a Rebelião, ainda tinham motivos suficientes para me manter ocupado do amanhecer ao entardecer. Poleiro do Grifo geralmente era calma, sem grandes dramas ou decisões de enorme impacto, mas situações como uma guerra abalava qualquer estrutura próxima, e os efeitos disso ainda ecoavam por toda as Terras da Tempestade. Fui criado para governar, mas também formado por um erro, que me fez pensar demais em tudo que me toma. Minhas reflexões de fato destronavam as convicções de um Lorde, talvez a única razão de manter todo aquele peso sobre mim sem que fuja para um bordel qualquer, seja o respeito por meu falecido pai, junto ao suserano da Casa Connington, e meu grande amigo, Ormund Baratheon.

- Lorde Connington, recebemos uma mensagem vinda de Ponta Tempestade. – Meistre Agrément adentrou a sala, já com o pedaço de papel selado em mãos.

Passei o papel sobre uma vela posta sobre a mesa, deixando frágil o selo Baratheon que colava ambas as partes do papel enrolado. Rompi um lado, percebi quase ter queimado o papel. Li com muita atenção aquilo escrito no papel; A letra de Thawin, assinado por Ormund. O Rei Valerion havia solicitado Ormund como membro de seu conselho, onde Lorde Baratheon me nomeou seu representante. Estremeci com essa possibilidade, era provavelmente a maior honraria que um senhor Vassalo poderia ter, ao mesmo tempo, um conflito entre meus princípios. Com certeza, precisava beber.

- Agrément, traga vinho, muito vinho. – Ordenei ao Meistre, que se assustava, sem entender se era uma mensagem boa ou ruim.

- Comemorar ou olvidar? – Questionou, não era comum Meistre Agrément conter sua curiosidade sobre algo, isso que o tornava interessante a meu ver.

- Não pude definir ainda, Meistre. – Rebati, com um olhar desconcertante. O Jovem Meistre deu uma risada, e seguiu porta afora.

A mensagem também trazia outras informações, como a posição de Edward como Lorde de Ponta Tempestade e a partida de Ormund para Rochedo Casterly. Essa personalidade de Ormund em tentar fazer jus a todas suas palavras em vezes me tirava do sério, ir até o território inimigo por uma espada? Que os deuses o ajudem para regressar logo e em paz. Outra guerra iria deixar completamente frágil nossa posição sobre as demais casas de Westeros, mas deveria confiar em Ormund, tanto em sua decisão em nomear representante, quanto em sua viagem repentina.

Horas mais tarde estava no salão, junto a Malter, Shean e Agrément. Decisões precisariam ser tomadas, junto a uma organização completa de como os atuais fatos iriam se suceder. Minha partida para Ponta Tempestade era comum, vivia mais junto aos Baratheon do que em casa, porém, Porto Real era meio mundo de distância, fora que todas novas responsabilidades iriam me distanciar de Poleiro do Grifo como jamais antes. Precisaria levar comigo no mínimo, cem dos melhores homens a meu serviço, sem prazo para retorno. Aquele covil de cobras, e dragões... Seria realmente um desafio conviver sobre o mesmo teto que todos aqueles homens desonrados.

- É imprescindível a presença de vocês junto a mim em Porto Real. – Dizia para ambos os três homens. – Com toda certeza eu não seria capaz de lidar com questões Reais sem o cérebro dos três para me aconselhar. Fora que é um lugar deveras traiçoeiro, aquela guerrinha interna de politicagem é tão perigosa como um campo de batalha.

- Seria uma honra acompanhar-lo, Lorde Jon. – Ressaltou o geralmente calado Malter.

- Precisarei escolher um sucessor para o posto de Meistre aqui no Castelo, se o senhor me permitir. – Disse Agrément, já organizando alguns papeis postos a mesa. – Tentarei fazer isso o mais rápido possível. – Completou.

- Jon, acha mesmo que seria sábio todos nós irmos para Porto Real? Por mais que Poleiro do Grifo seja um lugar pacífico, talvez nossa ausência pudesse causar certos desconfortos para os senhores, nobres e vassalos, não acha? – Questionou Shean, com uma feição preocupada.

- Agrément, tem minha permissão, com toda certeza. Partiremos em dois dias, então precisamos nos apressar.  – Segui meu olhar para Shean. – Talvez seja, realmente... É um risco a se correr. Porém, acredito que seja mais perigoso para nós morrer em Porto Real por algum mínimo vacilo que só você, ou qualquer um de nós nessa sala, em falta, ocasionou. O perigo em estar aqui é muito maior do que o de não estar, nesse momento, Comandante. – Levantei-me da cadeira, e pus-me a falar para todos. – Vocês são as mentes pensantes mais capazes que conheço, precisarei de ambos junto a mim nessa missão.

Todos se levantavam, este era o fim da reunião. Muitas coisas precisavam de preparo até a partida para Porto Real. Conosco marchariam cerca de cem soldados, alguns familiares, fora serviçais de todas as espécies, suprimentos para viagem, materiais para acampamento, tesouros, armas, cavalos, e tudo que fosse necessário. Era uma viagem "sem volta", até então, e longa. Antes de todos saírem do salão, chamei a atenção de Agrément;

- Meistre, você fiquei por mais um momento. – O Jovem Meistre parou de repente. – Preciso lhe pedir um favor em especial.

- Pode dizer meu senhor, do que precisa? – Perguntou, enquanto segurava seu mundo de pergaminhos envolvidos pelos braços.

- Garanta que Desmyn Strom esteja entre as escolhidas para a viagem. – Agrément pareceu confuso, mas logo pareceu entender um simples desejo de um homem por uma mulher. Mas infelizmente, era algo maior que isso.

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